Um sucessor espiritual a Portal | Análise de The Entropy Centre

A versão em vídeo dessa análise pode ser assistida clicando AQUI!

Imagine isso: A Terra explode. Segundos depois, você acorda, confuso, numa espécie de laboratório. Suas únicas fontes de informação são uma mensagem automática dita por uma voz robótica, que te informa seu nome e o nome do local, e um computador, pelo qual você fica sabendo que trabalha aqui resolvendo quebra-cabeças pra gerar energia. Por outro desses, você descobre que pra resolver os quebra cabeças você precisa de uma arma capaz de retroceder o tempo. Você pega a arma. Surpresa, sua arma fala!

Esse é o início do plot de The Entropy Centre, um jogo de puzzle em primeira pessoa que também é o primeiro jogo do desenvolvedor solo Stubby Games (ou Daniel Stubbington), lançado em 3 de Novembro de 2022 pra PC, Xbox e Playstation. Ufa, muitas informações nesse parágrafo.

As inspirações de The Entropy Centre em Portal ficam claras logo de cara, e o desenvolvedor não tenta esconder, então vou citar todas elas aqui pra gente poder seguir sem mimimi.

  1. É um puzzle em primeira pessoa. Isso é suficiente pra qualquer jogo ser comparado a Portal, mas em The Entropy Centre não é só isso que é similar, então…
  2. A ambientação é uma espécie de laboratório, que usa funcionários humanos em salas com puzzles. O esquema de cores do laboratório também é bastante parecido.
  3. Você tem uma arma que não é uma arma, e que te ajuda a completar os puzzles. E cubos! Arma e cubos. E botões. E pontes… Esse tipo de coisa você vai encontrar por aqui também.

Eu adoro Portal e outros jogos de puzzle em terceira pessoa, então um jogo ser inspirado nele, pra mim, é um ponto bastante positivo. De antemão, dá pra perceber que em vez de só parecer uma cópia barata, The Entropy Centre na verdade é como uma carta de amor a Portal, e por isso se você gosta do vovô dos puzzles em terceira pessoa vale a pena dar uma chance a esse joguinho aqui.

Agora que discutimos as semelhanças, podemos seguir…


Os puzzles de The Entropy Centre se sustentam em duas mecânicas principais

Primeiro, você tem cubos. Esses cubos se diferenciam entre si por suas funções: alguns cubos são só cubos, outros te fazem pular, outros soltam um raio laser, encolhem ou servem como ponte, e você descobre eles um por um ao longo do jogo. Esse uso tão intenso de cubos é, obviamente, um dos aspectos que mais lembra Portal. Mas aí temos a outra mecânica: sua arma! Que não solta portais, não. Sua arma retrocede o tempo em até 30 segundos no passado! Então, resumindo, você coloca os cubos no lugar deles e muda eles de lugar com sua arma de retroceder. Bem simples, né? Pois é aí que você se engana! Como só dá pra retroceder, você basicamente tem que resolver todos os puzzles de trás pra frente.

Essa mecânica de pensar ao contrário é bem legal nos melhores momentos, já que ter que pensar no último passo antes de pensar no primeiro torna alguns puzzles que seriam extremamente simples muito mais complexos. Eu cheguei a ficar 8 minutos tentando entender a solução de um puzzle que era muito mais simples do que eu tinha calculado enquanto pensava ao contrário. E o mais legal é que é uma dificuldade que você se acostuma. No pior dos momentos, não poder avançar com a arma te força a refazer o percurso inteiro com os cubos sempre que você comete o mínimo erro.

Um dos princípios incentivados no Entropy Centre, como é chamado esse laboratório, é resolver os puzzles sozinho. Fazendo isso, você gera mais dessa “energia de entropia”, que é necessária pra retroceder o tempo. Eu passei 11 horas jogando e não precisei olhar um guia em nenhum momento, mas não foi por conta desse incentivo da história. Acho que isso diz bastante sobre a dificuldade dos puzzles. Se você gosta de jogos com puzzles muito difíceis, esse daqui provavelmente não vai ser desafiador o suficiente pra você.

Um dos detalhes legais é que o jogo te mostra o tempo que você demorou pra completar o puzzle assim que você sai da sala. O puzzle que levei mais tempo pra resolver me roubou 18 minutos de vida, mas 95% deles você vai conseguir resolver em menos de 4 minutos. Ainda que não sejam muito complicados, eu me diverti bastante com todos eles.

Outro dos aspectos interessantes é que The Entropy Centre te apresenta novas mecânicas aos poucos, com novos tipos de cubos e outros objetos sendo introduzidos até o final do jogo. Isso ajuda a quebrar um pouco a monotonia das salas de puzzle, que vêm umas atrás da outra. Além disso, o jogo tem algumas sequências de “ação”, entre aspas, que também ajudam demais nesse propósito. A primeira delas acontece logo na primeira hora de jogo, e elas continuam aparecendo pra mudar o ritmo de uma forma super divertida até o ato final. É nelas que a gente usa a arma pra retroceder coisas além de cubos, e isso te força, levemente, a pensar fora da caixa por um pouquinho. Ótimo pra dar uma modificada nas coisas! Algumas dessas sequências de ação chegam a ter uma espécie de combate, que é bem divertido ainda que seja simples, apesar de ser suficiente pra me deixar nervosa sempre que um desses robôzinhos aparecia.

Então, se é isso que você quer saber, meu veredito sobre a gameplay é: divertida. Simples, mas divertida.

Agora, a história!

A verdade por trás do colapso iminente do Entropy Centre, e do decesso da Terra, pode ser encontrada no coração desta extensa instalação. Mas será que Aria aceitará a infeliz verdade que a espera?

Eu não sou o tipo de pessoa que gosta de spoilar a história de jogos sem que me peçam, porque a meu ver descobrir sozinho, aos poucos, e da maneira que os desenvolvedores construíram a sequência da narrativa é uma das partes mais legais de jogar jogos. Então eu não vou me alongar muito nessa parte da análise e vou tentar minimizar os spoilers.

Basicamente, a história inteira de The Entropy Centre se sustenta na mecânica de retroceder o tempo. A protagonista, Aria, trabalha no Entropy Center, que dá nome ao jogo e que é uma instituição com base na lua que trabalha pra garantir que catástrofes não aconteçam na Terra, ou, como diz o lema do centro, “criar um amanhã melhor”. E como eles fazem isso? Sempre que acontece um evento catastrófico que ameaça a vida na Terra, os funcionários do Entropy Centre retrocede o planeta inteiro em 5 anos, informa às autoridades da Terra que o fim tá chegando e o pessoal da Terra conserta a bagunça antes dela acontecer. Pra retroceder, eles usam esse raio gigantesco do que o jogo chama de “energia de entropia”, e pra gerar toda essa energia, suficiente pra retroceder a Terra, eles usam puzzles! Sempre que um funcionário soluciona um puzzle pela primeira vez, ele gera energia de entropia.

A Aria, controlada por nós, acorda por lá sem se lembrar de muita coisa, e basicamente tenta entender o que tá acontecendo ao longo do jogo, assim como nós. Além da Aria, outra das poucas personagens do jogo é a nossa arma falante, Astra. Enquanto a Astra não tem nada pra comentar (que acontece em grande parte no meio dos quebra-cabeças), sua arma é só uma arma que volta o tempo. Mas de vez em quando ela toma voz pra ser útil e apresentar uma nova mecânica, dar dicas, ou ainda pra soltar alguma bobagem, o que me tirou alguns sorrisos enquanto eu jogava. Eu acho essa coisa de dar voz a objetos bem divertida, então os comentários da Astra deixaram o jogo melhor pra mim, mas entendo 100% opiniões completamente contrárias sobre isso. Entendo, mas não concordo. Deixem a Astra em paz 😟

A dinâmica entre a Aria e a Astra é bem fofinha, e os poucos momentos de pausa e interação entre elas são bastante agradáveis.

Alguns comentários finais sobre o plot são que a história me pareceu um pouco previsível, e talvez o potencial dela tenha sido mal explorado. A narrativa fica mais interessante nos últimos atos (em especial do ato 8 em diante), mas sinto que o final foi um pouquinho abaixo do que eu estava esperando. Apesar de tudo, o desenrolar das coisas foi incentivo suficiente pra me fazer persistir pelas salas de puzzle mais chatinhas. Sem guia! Gerando bastante energia de entropia.

Com a ajuda da ASTRA – uma arma falante capaz de retroceder objetos no tempo – Aria pode restaurar as pontes desabadas da instalação, remontar caminhos destruídos e superar quebra-cabeças engenhosamente complexos para progredir até o núcleo do Entropy Centre na esperança de sobreviver a esta aparentemente condenada estação espacial e, de alguma forma, encontrar um caminho para casa.

O que eu contei aqui é o básico do básico da história do jogo. Por que a Aria acorda sem lembranças num Entropy Centre abandonado? Por que esse Entropy Centre está abandonado? Esses e outros são pontos que acho que vale a pena descobrir jogando.

Agora sobre os visuais: na minha humilde opinião, esse jogo é bonito pra caramba! É um dos pontos em que The Entropy Centre mais se destacou. Eu tenho esse preconceito sobre jogos indie que infelizmente eu não consigo largar, de que com menos gente pra focar em deixar as coisas bonitas muitos jogos indie acabam deixando esse aspecto de lado. É um preconceito meio feio, e na verdade acaba sendo mentira pra maioria dos jogos indie que já joguei na vida. Com The Entropy Centre eu quebrei a cara mais uma vez.

Apesar do menu ter um ar simples, você se depara com cenários muito bem construídos assim que começa um novo jogo. O centro tem áreas divididas e uma diversidade de ambientes que eu não estava esperando quando comecei a jogar. É esse tipo de jogo com design de interiores melhor que muita casa de verdade, sabe?

Aqui você também pega as inspirações em Portal, e principalmente Portal 2, já que somos guiados por um Entropy Centre meio abandonado. Dou destaque pra esse aspecto de abandonado, já que não é simplesmente um local vazio. Houve um cuidado pra fazer com que os lugares que a gente explora contem um pouco sobre o pessoal que passou por ali, que viveu naquele lugar. Durante as aproximadas 11 horas de jogo, chegamos a ver detalhes extras, que não precisariam existir, mas que estando ali acabam contribuindo bastante pra narrativa, além de mostrarem o cuidado com que a ambientação do jogo foi construída. No geral, além de Portal, os visuais futuristas e abandonados de The Entropy Centre me remeteram a jogos como Mirror’s Edge e Stray. E somado a uma estética espacial, que eu também amo, a ambientação de The Entropy Centre ficou nota 10. Muito bonito, palmas!

Deixando o pior para o final, falarei dos problemas. Eu preciso começar essa parte da análise deixando claro que meu PC é bem humilde. Pra piorar as coisas, eu gravo gameplays no mesmo PC que jogo, e isso afeta bastante a performance final. 

Nas 11h que passei jogando, gravando ou streamando The Entropy Centre, tive alguns problemas bastante notáveis, ainda que tenham sido poucos. Sempre que tinha muita coisa quebrando de repente, como nessa cena bem no início, o jogo travava de leve por alguns segundos. Isso se repetiu mais pro final, em algumas das sequências de ação. Outro problema que eu encontrei em certas fases foi uma demora bem grande pra carregar. Esses corredores entre salas servem como uma “tela de carregamento”, digamos assim, então eu acabei ficando presa por uns minutos em algumas delas enquanto a próxima parte terminava de carregar.

Se seu computador for um pouco melhor que o meu, eu tenho quase certeza que você não vai encontrar esses dois problemas enquanto estiver jogando. Mas se, como eu, você tiver um PC mais humilde, vai com calma. No geral, esses dois problemas não eram nada que tornava o jogo injogável, mas como aconteceram acho importante comentar pra você saber o que esperar.

The Entropy Centre também tem alguns bugs, claro. São coisas como cubos tremendo sem parar, ou um laser que apareceu do nada pra mim no meio de um dos puzzles e ativava coisas sozinho. Também tive bugs onde a Aria simplesmente clipava pelo chão, em especial em uma das últimas cenas do jogo, onde fui obrigada a reiniciar, quebrando o ritmo da narrativa. Mas, no geral, esses bugs foram bastante pontuais e também não me impediram de continuar a gameplay.

Deixo também alguns comentários finais. Esse foi o primeiro jogo que ganhei chave pra jogar antes do lançamento. Sendo um jogo de puzzle, fiquei com um pouco de medo de não conseguir passar das fases e não ter um guia publicado pra me acudir, mas felizmente The Entropy Centre é "burro-friendly" e eu não tive muitos problemas pra terminar sozinha em 11 horas. Ele tem tudo que eu mais gosto e sempre procuro em jogos: é divertido, não me estressa e tem uma história boa o suficiente pra me fazer querer continuar jogando mesmo quando eu percebo que é 4 e meia da manhã, o sol já está nascendo e eu passei a madrugada inteirinha jogando sem nem notar porque queria saber o que acontecia depois.

Acho que nem preciso dizer que eu gostei bastante da experiência que é apresentada, e fiquei bem impressionada com o fato de que é o primeiro jogo de um desenvolvedor indie solo. Então parabéns, Stubby, bravo! O jogo certamente tem seus problemas, desde o desempenho, passando pelos bugs, mas os bons certamente superam os maus em The Entropy Centre. Fico bastante curiosa pro que pode sair daí com ainda mais experiência.

The Entropy Centre é legendado em português brasileiro, e a demo está disponível na Steam caso você queira testar antes de comprar. Mas se você tiver dinheiro sobrando, gostar de jogos de puzzle e quiser ajudar um desenvolvedor indie, esquece a demo e vai na fé porque vale a pena!

Agora está em suas mãos criar um amanhã melhor!

Agradecimentos a Playstack e Stubby Games pela key de review!


Sobre a Autora:

Gibbles 23 anos. Faço lives na Twitch desde 2020 e vídeos para o Youtube desde 2022, cobrindo jogos que gosto e tenho interesse. No Arcadeful, publico alguns guias detalhados dos meus jogos favoritos. Visite meu canal no Youtube para mais!

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